domingo, 25 de março de 2012

O Desgaste das Fachadas

É desgastante o esforço que se faz para transformar a nossa subjectividade em algo objectivo que nos exprime mas que não representa a totalidade do nosso ser.


É desgastante na medida que o esforço é feito diariamente, com alta intensidade, elevado dispêndio de energia e num processo metamórfico quotidiano que somente funciona num terço das vezes, pois na realidade a fachada funciona somente para se autosustentar, para nos proteger do momento em que estamos desprevenidos e para alimentar egos que se alimentam da estima social de honra.

 
É desgastante porque transforma-mos a intersubjectividade numa mera fachada, porque fazemos da nossa existência uma passagem pelas terras do ego rumo à terra do nunca, rumo a onde nunca nos vamos estabelecer e a onde nunca vamos chegar a ser quem somos, pois nunca vamos desejar ser e viver como somos. Visto isto, surge uma questão: não será mais simples simplificar aquilo que deve ser simplificado? Pois isto assume-se como algo demasiado inglório (supondo que a glória representa bem estar e talvez estabilidade).

 
Mas calma (!), as fachadas são assim mesmo, cada uma como cada qual. Elas existem desde que existem coisas vivas (ou mortas), mas o estado doentio que hoje paira sobre os terrenos da civilização ocidental leva-nos a representar demasiados papéis que não conseguimos aguentar por muito tempo e que mal sabemos efectivamente representar. Leva-nos a construir outros self´s que jamais desejamos possuir (embora não tenhamos total poder sobre essa decisão executiva) e que tampouco jamais fariam parte daquele mundo que projectamos para nós enquanto seres actuantes e transformadores da realidade (isto é, aquele mundo que todos os dias é projectado para amanhã – ou seja, as projecções futuras que se realizam no quotidiano acerca da futuro desconhecido e que dominam parte da nossa subjectividade).

 
Enfim, que todos vivem – e especialmente sobrevivem – de fachadas e representações de papeis, já não é novidade para ninguém – embora constatar o óbvio seja excelente do ponto de vista introspectivo e da análise do meio envolvente. Contudo, aquilo que realmente atormenta são as actuações que estão gastas, as faces forçadas e as representações realizadas com base na ilusão a fim de produzir mais ilusão, que por sua vez constituem o corpo de exigências fundamentais para se sobreviver na civilização ocidental e na respectiva sociedade mecânica de todos os dias. No fundo, o problema são as exigências que já não somos capazes de responder e que nunca fizeram sentido.


(Continua[?])