segunda-feira, 15 de abril de 2013

2 de Março: O Que Faz Falta?


[Texto escrito enquanto peça de opinião para o jornal O Grito - 12/4/2013]:
 
Dia dois de Março de 2013, com a tutela do movimento “Que se Lixe a Troika”, caminharam cerca de um milhão de cidadãos pelas ruas de Portugal. O mesmo dia marcou também um momento positivo na curva ascendente da participação cívica, sendo um indicador positivo de uma crescente consciencialização e acção – hoje há mais gente na rua do que ontem – e foi uma resposta popular com um tom negativo às políticas económicas e sociais do XIX Governo e da Troika – pois, ao que parece são poucos os que estão a gostar do show.

Infelizmente nesse dia ficaram em casa outros tantos milhões: isso é um facto, compreende-se e salvaguardam-se os princípios individuais de cada um. Mas quem tem a honesta e transparente intenção de renovar ou revolucionar a estrutura e o volume do estado não pode aceitar tal facto. Tem consequentemente de agir, olhar para dentro e abordar quem fica de fora.

Tudo isto não deve ser apenas informação para argumentação ou exibição, deve ser um incentivo para um trabalho pedagógico, um exercício de consciência e de democracia que parece estar por fazer. Os números são positivos e não estamos no “piso zero”, mas faltam alguns processos elementares para realizar um projecto de mudança. A comunicação e a proximidade entre agentes são aqui fundamentais.

Assim, dos movimentos sociais ao povo, é urgente observar, avaliar e repensar as condições materiais (e os números). Há que entrar no debate, aproximar as colectividades das individualidades, romper com as ficções, romper com a história e agir! Há necessidade de criatividade e prática, de pura humildade nas acções e de pedagogia reciproca para que se desenvolva – de forma sustentável – uma plataforma comunitária democrática e real (outro Estado) que nos possa acolher confortavelmente amanhã, assim como as gerações vindouras. Essa plataforma não pode ser abstracta, tem de ser alargada tendo em conta que deverá ser afecta a todos, assim como todos deverão participar activamente (sem medo nem timidez). Terá de simples, directo e sem burocracia.

A história está “contra” nós – é tempo de repensar os papéis e os estatutos (as instituições e outras coisas obsoletas). Basta de concursos de beleza pedantes para movimentos e partidos. É necessário prática e sensibilidade estratégica. E já agora, enquanto tudo isso vos passa pela cabeça, pensem no que vão querer fazer hoje para viver amanhã.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Haja Consciência! (Editorial escrito para o jornal O Grito, 25-10-2012)



Recebi a tarefa de redigir o editorial desta edição de “O Grito”. Assim, esta é uma tarefa que realizo com um caloroso sentido de dever enquanto membro deste colectivo, e especialmente, enquanto membro de uma vasta comunidade estudantil. Comunidade esta que activamente existe e que deve ser consciente, devendo assim pensar e repensar a sua posição e o seu papel numa sociedade portuguesa (europeia? global?) que vive em mutações e lutas permanentes.

Face a tal espectro de influência e de acção alargada, esta edição apresenta conteúdos díspares que se alongam desde a defesa do ensino público democrático e de qualidade crescente (nunca mercantilizado), passando pelas acções de movimentos estudantis na defesa de diversas causas e, como é pertinente, até à informação e reflexão sobre a conjuntura portuguesa e internacional.

O meu “coração” pede-me que fale de tudo, mas serei breve e voltarei atrás: falarei da consciência. Quando constatamos que o ensino público tende a passar por dificuldades e desafios cada vez mais complexos, é necessário reconhecer que desmedida parte da comunidade estudantil (da FCSH e não só) aparenta padecer de um dada alienação, de uma certa apatia e desinteresse que lhe retiram a “paixão” e a capacidade de acção de outros tempos.

Isto, por si mesmo, é um indicador de uma consciência frágil, ou de uma falta de consciência colectiva sobre as condições materiais da vida social dos estudantes e sobre os espectros económicos e políticos que envolvem esta comunidade - e que ao mesmo tempo são produto das suas acções. Ora, visto isto, é infelizmente normal que vastos “atentados” ao ensino público e democrático continuem a perpetuar-se a cada dia que passa. E é de lamentar que tantos “virem a rosto para o outro lado” face a tal realidade.

Hoje (tal como sempre), há uma necessidade urgente de impedir tais atentados, é necessária uma consciência que capacite a comunidade para actuar e lutar, é necessária mais pro-Actividade, pois é necessário defender o que é de todos nós: um ensino superior democrático, eficiente e de qualidade – e hoje, já é tarde!

É pela força destas questões que vão surgindo movimentos e acções no seio das instituições públicas de ensino. E é pela necessidade de consciencializar e agir no seio desta comunidade que “O Grito” se desdobra agora como um colectivo, pretendendo assim juntar mais esforços e mentes para responder às necessidades e desafios da contemporaneidade no ensino superior. No fundo, para defender aquilo pelo qual cá andamos: uma formação académica digna, livre e para todos sem qualquer distinção. Como tal, não se requer paciência, mas sim consciência!