domingo, 22 de junho de 2014

Após Uma Partida de Futebol na Copa do Mundo de 2014.

O desporto enquanto produto social é o reflexo de um país moribundo, acrítico e sem capacidade para se recriar a si mesmo. As coisas estão mal, não existem bases, nem pilares e muito menos ideias para alavancar mudanças. Continuamos a viver do "isto resolve-se" e da sorte.

Creio que hoje assistimos ao fim do último reduto que detinha alguma produtividade em Portugal (o futebol). E não foi por acaso: as questões culturais são dependentes da acção social. Está tudo ali, está tudo concentrado em 90 minutos. Aquilo é a história de Portugal.


Talvez com o tempo a sociedade Portuguesa perceba a catástrofe que tem em mãos. Talvez deixe de procurar culpados no escuro e se torne crítica de si mesma.


Estou a dois dias de sair do país e não consigo deixar de me sentir com medo de mais tarde regressar. Tenho medo desta tragédia, mas tenho ainda mais medo que em Portugal se continue a olhar para o lado e a remeter tudo para a fé na "nossa senhora de Fátima".

Assim não vamos lá. Assim em todas as arenas da realidade jamais teremos balizas e jamais chegaremos até elas.

sábado, 10 de maio de 2014

Portugal, Um Retrato Surreal

Hoje deixo que as imagens falem por nós.


Portugal, Um Retrato Surreal from Canard Lapin on Vimeo.
"Portugal, A Surreal Portrait", Original Title: "Portugal, Um Retrato Surreal"

A Canard-Lapin film, 2013

Film beyond the film. Raw films to talk about a place. An open space for consciousness.

A narrative created from raw clips that were filmed between late 2012 and summer 2013. Edited and mastered in 2013.

domingo, 27 de abril de 2014

Lisboa Nossa

No país de Abril,
O meu Abril é paixão e um turbilhão.
Este Abril é saudade
Em qualquer pico
Das sete colinas.
Lisboa, sim, a tua.
Lisboa é nossa. A nossa casa.

Voltar sem ti
É um estranho retorno.
Um retorno ao início
Antes que tudo tenha começado.

É um retorno à saudade e à sua beleza.
Sinto o cheiro do verão e da comida caseira para turistas.
Oiço guitarras portuguesas
E vários destinos filhos da saudade.
Sinto tudo. Não sinto nada. São extremos.

Lisboa é nossa. Há amor. É a cidade dos amantes.
É nossa por mil anos de amor.
Caminho pela saudade. Pedra sobre pedra
Olho e faço ficções por ti.
Esta cidade é bela,
Mas só tu trazes a beleza do amor
A este solo onde fiquei louco por ti.

sábado, 26 de abril de 2014

Nota Sobre o 25 de Abril em 2014


Confesso que não entendo os programas de opinião em antena aberta e artolas de 22 anos que gritam: "Viva o Salazar". Há dias maus e há dias em que sinto vergonha pelo meu povo. Bom, será este o meu povo? Não, o meu povo - aquele ao qual pertenço - é filho de Abril. A lembrança que guardo do meu país é Abril.
 
É a liberdade, aquela liberdade que me deixa gritar que Abril não morre. A liberdade que me deixa pedir a morte do fascismo. A liberdade que assenta nos sonhos e na luta por uma qualquer sociedade mais justa e fraterna.
 
Lamento a ignorância e a falta de respeito por aqueles que padeceram e lutaram pela nossa dignidade. Como diria o outro: "É o país que temos".
 
Enfim, eu gosto de pensar que Abril não morreu. E não morreu! As ideias desta luta não morreram pois são mais universais do que qualquer mentira. Abril viverá enquanto a liberdade e a igualdade for a nossa bandeira.
 
Estas são as memórias que desejo guardar de Portugal. Aquela imagem de uma luta pela igualdade e pela liberdade. Abril sempre, AntiFa com certeza.

Escrito a 25/04/2014

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Nebraska



Vi isto ontem. Andava curioso. É de longe um belo exemplo de como o lado simples e quotidiano que toma lugar longe das estrelas e do perfume de LA pode ser a melhor arma dos criativos norte-americanos. O Midweast, por mim, seria a nova Hollywood. Isto se tudo passar a ser feito com esta sensibilidade e capacidade crítica.
Tudo é "normal" por aqui. Tudo é cómico e trágico como a vida de todos os dias. E assim é, seja no Montana, seja no Nebraska, seja em Portugal ou em Alenquer. Este retrato é diferente por uma certa indiferença. É o tal por trazer um narrativa transversal acerca da vida social capitalista nas regiões interiores dos nossos países ocidentais - neste caso no confortável Midwest.
A vida é assim: é uma relação dialéctica entra a diferença e a indiferença, entre a sanidade e a insanidade, entre o materialismo e o humanismo. É assim uma comédia negra, onde há a necessidade de retirar o mais alegre do pior. É um preto e branco figurado, onde problemas simples são guiões talentosos animados pela lentidão e necessidade destes lugares e gentes esquecidas.
PS: Mais um bom exemplo de que o cinema norte-americano não é apenas e só uma industria. Em Nebraska há uma fuga disso mesmo. Há a decadência da industria e do showoff. Faz-nos repensar o papel do cinema produzido nos países ocidentais - aquele cinema verdadeiro que fica além da película.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Tempo Não Existe

Uma sala de espera. Um hall longo:
Tempo. Perco tempo, aquele que já não recua.
Tempo aquele que já não se move quando ficamos sentados.
Aquele que é esperto: fica louco quando corremos.
Não há tempo morto. O tempo queima. Ele queima-se a ele mesmo.
O tempo não existe.
Mesmo quando julgamos que existe
Ele move-se,
E assim desaparece.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Notas sobre a Praxe



O estado demite-se. As várias instituições sociais demitem-se. E, por fim e pelo pior, as organizações como as universidades e as associações de estudantes demitem-se também do processo integração e consciencialização.

Assim, sobram aqueles jovens de roupa negra e a instituição "praxe" para tomar conta do assunto - pois "quem não tem cão, caça com gato". Isto só é possível num país como Portugal, onde todos se demitem e deixam dados grupos assumirem papeis de poder com maior ou menor estatuto de decisão e controlo social. Por exemplo, o governo português e as comissões de trote.

Isto acontece num país onde ir para a universidade é ir para a galhofa e sacar um diploma. Cada um sabe de si, mas o que deve ser preocupante é o facto de isto acontecer em vez de se ir para a universidade cultivar conhecimento e evoluir enquanto ser humano, e claro, enquanto cidadão. Enfim, o problema é que nem estudar e ler bibliografias, quanto mais cidadania e humanismo...

Isto acontece num país onde não se valoriza o real sentido da dita vida académica. Ou seja, estudar, investigar, desenvolver conhecimento, apalpar esse conhecimento e conviver. Conviver, claro, mas dentro de um ambiente  académico e estudantil saudável e construtivo (estudantil remete para estudos e estudantes, não para cânticos machistas e homofóbicos).

Isto acontece num país pateta e alienado onde se permite que estes indivíduos (alguns de tom duvidoso) assumam um papel de poder, controlo e manipulação da realidade social no seio de instituições de maior importância como as universidades. As universidades são um pilar das sociedades contemporâneas, não podem ser uma feira medieval (lá está, é a "tradição"). Imaginem esta galhofa num hospital... Ou quiçá nas nossas próprias casas, ali em cima da carpete da sala de estar.

A praxe não é tradição, a tradição é algo que é constantemente produzida e reproduzida no presente e só existe se um dado grupo assim o quiser - e outros o tolerarem.

A tradição não se justifica com a própria tradição mas sim através dos interesses e valores que os seus praticantes formulam e reivindicam para si. Isto da tradição é falso e intelectualmente desonesto. Pior é ver supostos estudantes de ciências sociais a dar este argumento. Demonstra que não andam ali a fazer nada, ou fazem muito pouco.

A universidade é pluralismo, não é uniformidade e fascismo infantil. A universidade é de todos e deve ser respeitada enquanto local de pedagogia e conhecimento. Tais rituais tendem a estigmatizar e a perturbar o espaço socialmente partilhado, e assim envergonham a universidade e os estudantes.

A noção morreu em Portugal. Tragam a tradição, o ultra-tradicionalismo, o elitismo e a submissão cega e corporativista. Tragam o Salazar de Santa Comba Dão e metam novamente o bandido do José Hermano Saraiva a espancar os estudantes. Para muitos esses tempos seriam espectaculares - era só tradição e hierarquia instituída pela força.

Esse sim, era o Portugal das praxes, das elites e da submissão... O Portugal que deveríamos compreender e analisar com um perspectiva crítica, e não esquece-lo como até agora se tem feito. Esquecer é isto, é a realidade social assente em condições materiais da vida social que estão fragmentadas e corrompidas  por maus vícios do passado. Este é um problema cultural, tal como tantos outros que temos cultivado.

Enquanto não houver consciência, enquanto se perpetuar a ausência de pensamento crítico sério e intelectualmente honesto, creio que vamos continuar a assistir a velhos fenómenos. Vamos assim continuar a assistir à cristalização e reprodução de supostas tradições e instituições que apenas  fazem de Portugal um país tradicionalista, resistente à mudança, desmotivado e incapaz de se auto-superar. A sociedade portuguesa tem estigmas e complexos (de inferioridade e de superioridade) em estado agudo. E isto tudo que nos desagrada (ou agrada) é um produto social disso mesmo.

Por fim, este é um fenómeno cultural relevante e deve ser analisado - jamais ignorado. É necessário para bem de todos, que se compreenda o fenómeno do ponto de vista institucional, à luz das práticas sociais e dos actores que as produzem e reproduzem. O quê? Como? Onde? Porquê? Que classe? Para onde vão? De onde chegam? Talvez aqui existam respostas para a construção de um clima de co-existência intelectualmente honesto. Esta questão da análise do debate é muito importante, é pena que quando se tenta debater o assunto, haja sempre um lado da moeda que foge ao debate e mete a capa da tradição.

 Esta lado da fuga e disfarce é triste, pois há defensores da causa da "praxe" que conseguem realizar exercícios intelectuais honestos e críticos, e esses devem mover-se e evitar que os colegas continuem a dar respostas vazias que envergonham os estudantes aos olhos dos outros cidadãos.

Aos defensores do trote: as coisas estão como estão, por favor, defendam-se bem. O outro lado da barricada fez o trabalho de casa e vocês necessitam de fazer sentido.

Pois bem, mas como isto é Portugal, está e vai estar tudo na mesma. Não se preocupem.