quarta-feira, 27 de março de 2013

Estado da Arte sob Esgotamento




Aterrar na realidade portuguesa contemporânea e fazer parte dela é, entre outras coisas divertidas, semelhante ao acto de tropeçar e cair em cima de uma fogueira: é óbvio que alguém se vai queimar enquanto um pequeno grupo se ri da cena em causa. Hoje, tal como antes e desde há uns séculos, Portugal vive desconsoladamente numa crise deprimente e sem graça, ou pior: vive sem rumo e aparenta ser um cozinheiro em busca da famosa “omelete sem ovos”.

Não sendo um país feito de Raskólnikov´s, é normal que tantos coloquem a mochila às costas e saiam do país, pois ninguém se identifica com a vida que é forçado a viver aqui. O saldo migratório acentua-se com uma evolução negativa, a natalidade decresce e o desemprego cresce, assim Portugal é hoje um pais envelhecido (talvez "velho" e "senil"?), pouco activo, economicamente estagnado, agarrado a uma identidade nacional que em parte foi forjada no Estado Novo pelo “Velho Cavernoso” de Santa Comba Dão, e está cheio de gente que fervorosamente solicita uma revolução no volume e estrutura do Estado – este facto, pelo menos, é altamente positivo. Enfim, mais indicador, menos indicador, este é um problema antigo e secular pois a “nau” vai à deriva desde o reinado de D. Afonso VI, embora neste último caso possamos equacionar uma desculpa face ao facto de ser um doente lunático. Sim, não... Mas será que os restantes não o são?...

Há solução? Sim, mas será necessário ter consciência do que nos rodeia (e nos trama a vida). É necessário esquecer o tempo mais que perfeito e ter coragem de varrer a casa (e logo depois desinfectá-la com lixívia). É necessário uma mudança prática de mentalidades, tomar consciência, avaliar com transparência e abertura, criar uma massa criativa, pró-activa e prática capaz de assegurar um projecto sólido e real que mude endireite de uma vez por todas o “pepino torto” em que vivemos e que, apesar das Troikas, ainda vamos governando. Sem um corpo consciente e prático será impossível recriar (reabilitar?) Portugal. Se nada for feito, se a alienação continuar, enfim… Acabar-se-ão as “papas doces” e depois logo se pensará no que se há de fazer com um “velho” senil e paralítico com quase mil anos.

Perdoem-me se pareço excessivamente catastrófico, mas temos todos maturidade suficiente para entender que o comboio vai descarrilar. Hoje, ser positivo é deixar de lado  dadas “portuguesices” como: “a coisa resolve-se”, “eles é que governam”, “onde anda D. Sebastião?”, “hoje não pois joga a selecção” e, sobretudo, “não há nada de errado para admitir e eu não tenho culpa alguma”.

É urgente observar, entrar no debate, romper com as ficções, romper com a história e agir! Urge assim a necessidade de criatividade e prática, de pura humildade nas acções e pedagogia reciproca, sem demagogia, para que em simultâneo se desenvolva - de forma sustentável - uma plataforma comunitária democrática real que nos possa acolher confortavelmente amanhã, assim como as as gerações vindouras e claro, que a mesma exista enquanto algo do qual todos os cidadãos são afectos e participam activamente (sem medo nem timidez). Simples, directo, sem espinhas e sem burocracia, assim terá de ser.

Chega de sobreviver! A história está “contra” nós – é tempo de pensar e repensar os papeis e os estatutos (as instituições e outras tralhas velhas). Basta de concursos de beleza pedantes para movimentos e partidos! Que haja prática e sensibilidade estratégica, e por fim, pensem no que vão querer fazer hoje para viver amanhã.