Aterrar
na realidade portuguesa contemporânea e fazer parte dela é, entre outras coisas
divertidas, semelhante ao acto de tropeçar e cair em cima de uma fogueira: é
óbvio que alguém se vai queimar enquanto um pequeno grupo se ri da cena em
causa. Hoje, tal como antes e desde há uns séculos, Portugal vive
desconsoladamente numa crise deprimente e sem graça, ou pior: vive sem rumo e
aparenta ser um cozinheiro em busca da famosa “omelete sem ovos”.
Não
sendo um país feito de Raskólnikov´s,
é normal que tantos coloquem a mochila às costas e saiam do país, pois ninguém
se identifica com a vida que é forçado a viver aqui. O saldo migratório
acentua-se com uma evolução negativa, a natalidade decresce e o desemprego
cresce, assim Portugal é hoje um pais envelhecido (talvez "velho" e "senil"?), pouco
activo, economicamente estagnado, agarrado a uma identidade nacional que em
parte foi forjada no Estado Novo pelo “Velho Cavernoso” de Santa Comba Dão, e
está cheio de gente que fervorosamente solicita uma revolução no volume e
estrutura do Estado – este facto, pelo menos, é altamente positivo. Enfim, mais indicador,
menos indicador, este é um problema antigo e secular pois a “nau” vai à deriva
desde o reinado de D. Afonso VI, embora neste último caso possamos equacionar uma desculpa face ao
facto de ser um doente lunático. Sim, não... Mas será que os restantes não o são?...
Há
solução? Sim, mas será necessário ter consciência do que nos rodeia (e nos trama a
vida). É necessário esquecer o tempo mais que perfeito e ter coragem de varrer a
casa (e logo depois desinfectá-la com lixívia). É necessário uma mudança prática de
mentalidades, tomar consciência, avaliar com transparência e abertura,
criar uma massa criativa, pró-activa e prática capaz de assegurar um projecto
sólido e real que mude endireite de uma vez por todas o “pepino torto” em que
vivemos e que, apesar das Troikas, ainda vamos governando. Sem um corpo
consciente e prático será impossível recriar (reabilitar?) Portugal. Se nada
for feito, se a alienação continuar, enfim… Acabar-se-ão as “papas doces” e
depois logo se pensará no que se há de fazer com um “velho” senil e paralítico com quase mil anos.
Perdoem-me
se pareço excessivamente catastrófico, mas temos todos maturidade suficiente
para entender que o comboio vai descarrilar. Hoje, ser positivo é deixar de
lado dadas “portuguesices” como: “a
coisa resolve-se”, “eles é que governam”, “onde anda D. Sebastião?”, “hoje não
pois joga a selecção” e, sobretudo, “não há nada de errado para admitir e eu
não tenho culpa alguma”.
É
urgente observar, entrar no debate, romper com as ficções, romper com a história
e agir! Urge assim a necessidade de criatividade e prática, de pura humildade
nas acções e pedagogia reciproca, sem demagogia, para que em simultâneo se
desenvolva - de forma sustentável - uma plataforma comunitária democrática real
que nos possa acolher confortavelmente amanhã, assim como as as gerações vindouras
e claro, que a mesma exista enquanto algo do qual todos os cidadãos são afectos
e participam activamente (sem medo nem timidez). Simples, directo, sem espinhas e
sem burocracia, assim terá de ser.
Chega
de sobreviver! A história está “contra” nós – é tempo de pensar e repensar os
papeis e os estatutos (as instituições e outras tralhas velhas). Basta de
concursos de beleza pedantes para movimentos e partidos! Que haja prática e
sensibilidade estratégica, e por fim, pensem no que vão querer fazer hoje para
viver amanhã.