terça-feira, 3 de abril de 2012

Jogo


"Fito-te - E o teu silencio é a minha cegueira".
Fernando Pessoa



 Foto: Helena Almeida - algures no século XX.


Fito-te, falo-te, tento sentir a tua inesquecível - mas simplista - presença, mas parece que ambos desejamos  algo em excesso (talvez demasiado): cada um para seu lado. 
Tudo isto não passa de um jogo de antagonismos, onde um acende e o outro apaga, e assim ficamos durante boas parcelas de tempo colorido, até que tu tiraste partido das barreiras impostas por decisões nossas - quiçá alheias.

E pronto, assim foi e assim é: não é nada do que eu quero, é tudo o que desejas (pelo menos é o que me ensinaste). Mas na realidade (se é que isto é real), isto é mais do que isto, ultrapassa a visão matemática do fenómeno em que nos envolvemos e deduz-se num resultado sorridente: afinal, no seio disto tudo, ainda cá estamos, e é na presença e no ser que reside a força da dupla que somos enquanto indivíduos soltos e autónomos mas com tempos, espaços, crenças, valores e ideias em comum. A nossa cultura é a mesma e o laço não se rompe - mesmo que desenhes barreiras e antagonismos entre nós. 

Não se rompe porque não faz sentido que assim seja, seria uma falta de bom senso, pois tudo isto que existe e deixa de existir, é um jogo divertido - ao qual ambos sabemos perfeitamente jogar. Quer queiramos, quer não, isto é divertido e é parte integrante do nosso ser. Se assim não fosse, eu não te fitava, nem te falava, pois simplesmente não existia-mos. Este jogo é nosso, é um cruzamento de subjectividades que têm dificuldade em objectivar-se, é um "Monopólio" de emoções (ao estilo do tal jogo de tabuleiro) , onde cada um tenta vencer, tirando proveito da miséria alheia.

Mas como isto é um jogo, e apenas um jogo, não te levo a mal, pois os jogos são assim mesmo: feitos de derrotados e vencidos (ou empatados) e a participação urge como o mais relevante e realizador, sendo a experiência - tanto negativa como positiva - fundamental para a nossa evolução ontológica. 
Enfim... Mas - desculpa a ousadia - eu não me esqueço que sempre partiste em vantagem! Ora, é a fabulosa sabedoria popular, pois tal como dizem os antigos e clássicos: tu tinhas - e tens - a faca e o queijo na mão.

1 comentário:

  1. Todo es un juego de antagonismos, diría yo. Siempre alguien pierde.

    Sin embargo no encontré si el texto hablaba del amor o por contra es una valoración de la existencia a nivel metafísico.

    En cualquier caso me gustó.

    Saludos.

    ResponderEliminar